Nos últimos 30 anos, tenho visto que a comunidade científica, dos mais velhos aos mais novos, critica arduamente autorias fraudulentas, mas elas continuam.
Precisamos não apenas entender o assunto, mas mudar a prática!
O que leva à autoria fraudulenta?
Se lhe disserem que a competição por publicações tem feito com que apareçam autorias fraudulentas, não acredite.
Autoria fraudulenta decorre de desvio moral e ético.
Sob pressão, os desonestos optam pelo caminho mais fácil, que é a fraude.
Na literatura há relatos de artigos com 900 autores (Maddox, Nature 369: 353, 1994).
Nos excessos pode haver fraude, mas também o número não comprova a fraude. Se houver dois autores, um deles pode ser espúrio.
Quais as principais implicações da autoria fraudulenta?
Um autor fraudulento leva em seu currículo uma atividade que lhe foi atribuída de forma ilícita.
Considerando critérios para aprovação em concursos públicos e distribuição de verbas no meio acadêmico brasileiro, tais fraudes lhe rendem prêmios (contratações e aprovações de financiamento).
Como nesse meio acadêmico essas verbas são, geralmente, públicas, indiretamente significa desvio de verba publica.
Só para registrar: conheci um pesquisador brasileiro que, em 5 anos, publicou 64 artigos (todos dele?), dos quais 63 na revista brasileira em que era editor-chefe e 1 numa revista pior que a dele – e era pesquisador PQ 1A pelo CNPq.
CRITÉRIO: O que não garante autoria
a) coletar dados: fazer ciência é construir conhecimento. É uma atividade teórica que pode resultar em tecnologia. Assim, a essência de um artigo acadêmico é sua conclusão. Ela decorre da concepção (objetivo e delineamento), dos resultados e da interpretação que se dá a esse cenário. Vejam que Lamarck e Darwin partiram de dados similares, mas os interpretaram de forma diferente. Portanto, a coleta de dados não é elemento necessário e suficiente para autoria.
b) pertencer ao grupo: cuidado, é formação de quadrilha, mudando de grupo para bando de pesquisa.
c) emprestar material ou equipamentos: materiais e técnicas são meios para se obter resultados; o discurso científico vai além desses meios e dos resultados.
d) realizar análise estatística: essa análise caracteriza uma amostra, ou testa associações (comparando tratamentos ou testando correlações); o autor conclui a partir daí. É o início para o discurso e, portanto, sozinho não garante autoria.
CRITÉRIO: o que garante autoria
Há três participações que, no conjunto, garantem autoria (baseadas em Maddox op. cit.):
a) conceber a pesquisa e/ou as conclusões;
b) concordar com o texto e
c) ser apto a defender a essência do texto perante a comunidade científica. Depois de publicado, não adianta dizer que não viu… Assuma a responsabilidade.
Isso define se o indivíduo pertence ou não ao quadro de autores.
Quanto à sequência de autores, não há padrão nacional ou internacional, embora haja ordenações mais comuns.
Assim, como não é universal, erram os comitês que pontuam em função da posição do autor no rol de autores.
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Texto escrito por Gilson Luiz Volpato, professor adjunto do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu que atua há 25 anos nas áreas de Metodologia, Redação e Publicação Científica e é autor do site www.gilsonvolpato.com.br